Pular para o conteúdo principal

Autoconhecimento e a desilusão amorosa


Olá, pessoal!




Autoconhecimento: o amor tem de ser tudo, menos ilusão!

       Vivemos tempos de relacionamentos líquidos, para usar a expressão do sociólogo polonês recentemente falecido, Zygmunt Bauman, a quem tanto o filósofo Felipe Pondé e o historiador Leandro Karnal gostam de citar. 
       No entanto, apesar da aceleração da vida moderna, tenho para mim que nunca fomos dados ao que nos atrapalhava ou machucavaincluindo os relacionamentos amorosos infrutíferos.
       O que mudaram foram as formas tradicionais de convivência e a velocidade com a qual respondemos aos problemas em geral. Hoje a paciência não é mais um valor, e as coisas (leia-se, "pessoas") ou mostram logo a que vieram ou são descartadas. 

       A vida sempre exigiu que saibamos como ela funciona. E se tem uma área complicada da vida é a dos relacionamentos afetivos, porque é o choque entre dois mundos. 
       Quanto mais nos conectamos à realidade, ao invés de negá-la, menos nos embriagaremos com achismos e fantasias sobre a nossa humanidade. O que é vital para evitarmos desilusões no amor.
     
       Nesse texto, não vamos focar na construção ou na manutenção de um relacionamento amoroso, mas em como devemos interpretar as situações que nos geram tanta decepção nos assuntos do coração. 
        O que a rejeição, rápida ou tardia, pode significar na verdade? Quais as possíveis razões que levam um dos parceiros a terminar a relação? E como evitar essas experiências, atravessa-las com dignidade e, na medida do possível, com equilíbrio emocional?   


1 - Não era de verdade: distração

     Sejamos francos: você já passou o tempo com alguma coisa ou alguém até que surgiu algo melhor para fazer e você deixou a distração para lá. Admita.

       Pois é, costuma acontecer. O problema é quando isso funciona de lá para cá também. Alguém vê a nossa disponibilidade, solidão e carência e se aproveita sem cerimônia. E isso é péssimo, não é?
       
       É fácil acusarmos o outro de hipócrita e cruel nessas horas. Como se ele, como você e todo mundo, não tivesse o direito de se distrair. 
       A atitude de usar e abusar do outro pode não ser moral ou eticamente recomendável, mas é a atitude mais normal e recorrente que existe.

       Ok, você não é assim. Não se utiliza das pessoas com segundas intenções ou por falta de um objetivo descente e legítimo. Digamos que você seja mesmo uma dessas belas exceções na raça humana, como nós aqui do outro lado também achamos que somos. Muito bem. 

       Só que, lá fora, há uma multidão de indivíduos que se aproveita e tira vantagem de qualquer um sem dar a mínima! Tudo para eles é uma questão de conveniência e oportunidade. Não só no amor, mas entre amigos e colegas de trabalho, levar vantagem é sinal de esperteza

       As pessoas têm sempre interesses ocultos ao fazerem qualquer coisa, incluindo as relações a dois. Ainda que elas nem se deem conta disso, devido a habitual inconsciência sobre os próprios atos egoístas que praticam.

cresceretranscender.blogspot.com.br
Autoconhecimento: amor não é distração
       O curioso e mais deprimente nos casos de amor, é que só reconhecemos os usos e abusos após a tragédia
       Aí você nota que a pessoa lhe procurava só quando tinha tempo livre. Se dá conta de que ela desaparecia por dias sem dar sinal. Ou que ela se mostrava fria mesmo quando estava do lado. Você se lembra até daqueles "amigos" e "amigas" que estavam sempre orbitando a relação de vocês. 

       O tipo de relação que vocês tinham pode dizer muito sobre o caso. Você eram namorados, ficantes ou "estamos nos conhecendo", que era como o outro descrevia o caso de vocês. Não se comprometer é uma forma de mostrar que a coisa não é mais que um passatempo. 

       O ser humano é um ser em busca de conforto e felicidade, e o egoísmo é a forma mais básica de sobreviver e se auto afirmar. Não podemos não ser egoístas. 
      Mas enquanto alguns tentam dosar esse egoísmo com um certo altruísmo, a maioria não quer nem saber do bem-estar (link afiliado) alheio.
       Portanto, da próxima vez que deixar alguém entrar na sua vida, é melhor estar ciente de que você não será simplesmente uma distração para ele.


2 - Foi um momento de encanto: exagero

       Imagine você estar num cruzeiro exótico ou naquela festa maravilhosa, ou ainda participando de um evento singular, e surge aquele alguém cujo olhar e palavras arrebatam o seu coração.            

       Às vezes basta que surja uma paquera inesperada num local ordinário (no metrô, no trânsito, na fila do cinema) e é suficiente para ativarmos um mundo de fantasias.

       Gostamos de coisas incomuns e raras, às quais damos significados especiais e místicos. Aí, promessas são feitas, expectativas são criadas, e a racionalidade é posta de lado. 

       A falta de autoconhecimento faz com que exageremos as nossas percepções, sensações, o valor das circunstâncias, e enlevados pela empolgação, ficamos à deriva.

       Contudo, quando se volta à dura realidade cotidiana, a atmosfera glamourosa e faiscante não vem junto. Então se percebe que limites foram ultrapassados e tudo precisa voltar aos eixos.

cresceretranscender.blogspot.com.br
Autoconhecimento: amor não é empolgação

       A culpa de muitos desses exageros se devem aos mitos românticos que nos foram ensinados.   

       Segundo Renée Suzanne, "coach para mulheres inteligentes que buscam encontrar o amor", como ela se define, há pelo menos cinco mitos românticos. Dentre eles está o o mito da "alma gêmea", e o mito "do que tem de ser, vai ser" (original aqui):


Todos queremos acreditar em magia e romance. O amor em si é mágico. Mas contar com mágica para trazer alguém para a sua vida não é nada realista. Nossa cultura nos incentiva a ter expectativas irreais sobre amor e romance. Uma das mais destrutivas é de que o amor simplesmente acontece, e qualquer coisa que você fizer para encontrá-lo, será sinal de desespero.

       Por isso, quando a magia envolvendo uma situação que achávamos ser "coisa do destino" acaba, ficamos envergonhados e desorientados.

       Mesmo assim, a nossa instintiva linguagem corporal  e o  comportamento evasivo nos entregam: diante daquele que um dia nos encantou, o olhar foge, o contato físico diminui, as conversas ganham reticências, e histórias são recontadas apenas para disfarçar a insuportável experiência de estar ali.

       Pois é, o sonho acabou. É hora de se assumir que tudo foi um engano. Se perceber antes, tenha dignidade e facilite para que o outro se vá. E tudo ficará bem.

       Por não sabermos ou por nos observarmos tão pouco, complicamos e nos atrapalhamos até mesmo sobre o que queremos e o quanto queremos. Exageramos por falta de equilíbrio e percepção mais afiada sobre a realidade.    
  

3 - O festival de projeções: idealização

       Se a cada item descemos mais um nível na forma de criar relações ilusórias, esse aqui é o fundo do poço.

       Aqui a realidade se torna tão dura quanto diamante, e o resumo da ópera já podemos adiantar: você não era tão interessante
       Seres humanos são inventores por natureza. Às vezes projetam você do jeitinho que queriam que você fosse. E se você embarcar na loucura e assumir os atributos e elementos com os quais lhe enfeitaram, acabará patrocinando a própria desgraça. 
       Talvez porque você sempre quis ser daquele jeito, ter aquelas qualidades que o outro "identificou" em você. 
       "Ah, quem sabe essa pessoa não está me vendo melhor do que eu mesmo me vejo?", você sonha. É assim que começa. Mas não é assim que acaba.

cresceretranscender.blogspot.com.br
Autoconhecimento: amar é um projeto, mas não é projeção

       Imagine as fantasias que criamos sobre as pessoas como cera e a realidade como fogo. Você já vislumbra qual será o resultado... 


       Sem conhecer a pessoa, preenchemos as lacunas, destacamos aspectos. O que não aparecia, inventamos. E o que parecia, tomamos por certo. 
       E, como se a pessoa fosse uma tela de cinema, projetamos nela a nossa melhor super produção.
       
       Uma hora alguém não mais suporta esse baile à fantasia e tudo vem abaixo. Geralmente, quem projeta acorda primeiro, e o outro volta a ser a tela branca sem graça. 
       Mas ambos sofrem. O projetista porque tem de tem reconhecer que se enganou. O projetado porque descobre que não era ele quem o outro via.

       Se você tivesse mais consciência de quem é, conheceria melhor os seus caprichos, solidão ou carências. Teria evitado toda a raiva, amargura e desapontamento que ficam para trás quando tudo finalmente acaba. 
       Quando nos tornamos mais lúcidos (link afiliado), passamos a olhar para os outros melhor. Esperamos e inventamos menos. Ficamos mais críticos com aparências, pois podem nem ser reais, mas somente produto da nossa imaginação. 


4- Foi amor, mas acabou: crescimento

       Tudo deu certo. Vocês funcionaram perfeitamente como um casal, se correspondendo em quase tudo. As diferenças foram gerenciadas e a relação floresceu. Mas mesmo assim tudo terminou. 
        Houve um envolvimento sincero e mútuoNada de abuso, exageros ou projeções. Mas chegou a um termo.

       A verdade é que os relacionamentos têm um ciclo, e é sempre a morte - não necessariamente a biológica - que acaba com todos eles. 
       Pode ser a morte do interesse, da paixão, das afinidades e objetivos comuns. Enfim, quando acaba, nada mais há a fazer.

       O ideal seria que ambos se dessem conta de que já viveram tudo o que tinham de viver. Lamentável é que essa percepção surge normalmente de uma das partes.

       Nessas horas, por medo de ficarmos sós, nos jogamos desesperadamente sobre o cadáver do que um dia foi um relacionamento para tentarmos "ressuscitá-lo". Mas qualquer atitude é inútil. Temos de aceitar.

       Nesse tipo de relação, não há culpados. O que acabou foi a conexão, as afinidades, aquilo que dava vida ao relacionamento. Tudo natural.
       
       Ninguém deve ficar preso ao que não mais envolve ou emociona. 
       E se você foi deixado, gostaria mesmo que o outro ficasse com você por pura pena? Eu acho que não.

       Nós somos mutantesNão devemos esquecer que todos nós evoluímos. Isso vale para amigos e mais ainda para amantesE por mais tempo que dure uma história de amor, uma dia podemos querer colocar um fim nela. 
       Um dia, conhecemos outras coisas, outros mundos, outras pessoas, o nosso mundo se expande.
       
       É como diz a coach de relacionamentos Tina Su, sobre Como superar o fim da relação (original, aqui):      


A verdade é que tudo e todos estamos em constante mudança. As transformações em nós e nas circunstâncias são inevitáveis e inegáveis. Quando mudamos, a dinâmica das relações também se alteram - as românticas, as de amizade, as familiares e até relações de trabalho. Com o tempo, algumas relações se reforçam e outras se rompem. Quando as pessoas se separam, não quer dizer que alguma delas foi má, mas que elas já aprenderam uma com a outra e é hora de seguir em frente.
Autoconhecimento: o amor é bonito, mas pode ser finito

       E, sabe? O autoconhecimento é o responsável por tudo isso.        
       "Mas ele não deveria facilitar as coisas?", você pode estar se perguntando? Sim, e é exatamente isso que ele faz.

        Não será preferível saber que uma pessoa está conosco pois de fato se conhece e nos conhece, do que ser apenas a distração, o exagero ou uma projeção de algum descompensado que, mais cedo ou mais tarde, vai nos dispensar?



Até mais!


Leia também:

Os 10 benefícios do Autoconhecimento






       



Comentários

Mais lidos:

5 características da pessoa expansiva

Olá, pessoal! Expandir: crescer e transcender        Como age uma pessoa autoconsciente e expansiva?  Como a lguém que não quer apenas existir, mas viver plenamente, se comporta no cotidiano ?  Como é viver mais  feliz por que você está seguindo a sua própria rota de vida?          Digamos que você seja alguém que já tenha conseguido escapar dos  limites paralisantes da zona de conforto , como é possível identificar que você está vivendo naquilo que vamos chamar aqui de  "modo expansão" ?         A mentalidade expansiva produz uma maneira de ser, agir e reagir inconfundíveis. Podemos dizer que se torna um estilo de vida .         A pessoa conscientemente expansiva nunca está parada, instalada. Ela já se  conscientizou que, devido à nossa tendência  natural ao comodismo , nunca estamos nos  esforçando o suficiente.         Viver no modo expansão é sentir a todo momento uma inquietação interior que pode ser expressa numa pergunta:        "O que ain

10 razões para não virar AMANTE [2020]

Olá, pessoal!         "Se tem uma pessoa que sabe o que é mágoa, dor e decepção, esse alguém sou eu. Mas eu continuei lutando para me tornar e melhor versão de mim mesma e superar quaisquer que fossem os obstáculos à minha frente. Por muitos anos eu achava que estava presa numa infelicidade da qual eu jamais sairia, todavia eu descobri que isso era uma falsa crença. Me dei conta de que tinha o poder para mudar a minha vida e criar um novo futuro, e é exatamente o que estou fazendo. Antes tarde do que nunca."         A declaração acima é de Carrie L. Burns , autora do post que trazemos para vocês nesta semana.  Carrie L. Burns: não seja uma amante        Carrie sofreu  abuso sexual  durante seis anos por parte de um vizinho pedófilo. E isso a fez ter muita raiva de tudo e todos. Isso e muito mais ela conta  nesse texto .        Viver depois disso, nos conta ela, era uma luta diária, devido à sensação de "vazio" e de "desespero" em

Os 10 benefícios do Autoconhecimento [2020]

Olá, pessoal!        Autoconhecimento pode ser definido como o processo pelo qual alguém,  a partir da investigação dos seus gostos, limitações,  limitações,  ações e reações emocionais, conhece a  si mesmo .        Se conhecer não é um luxo, mas uma estratégia que todos desejam aprender mais sobre si e desenvolver como suas relações com os outros.         Mas como responder de maneira objetiva e exemplar a alguém para convencê-lo de que ir por esse caminho traz realmente vantagens no dia-a-dia?          Para destrinchar isso, vamos listar os que consideramos serem os 10 benefícios do autoconhecimento .  1) Se expressará melhor                  Se viver é comunicar, precisamos fazer isso de maneira adequada. Mas como falar daquilo (no caso, daquele) que não conhecemos: nós mesmos?        O primeiro benefício do autoconhecimento é facilitado o contato com a realidade pessoal.         Uma vez conectado com quem e tudo o que somos,